Em crise de combustível, cadê o transporte sobre trilhos?

28 de maio de 2018 - 16:47

Desabastecimento em larga escala, enormes filas nos postos de gasolina, suspensão de aulas escolares, mercados com prateleiras vazias, desespero em busca de mobilidade. Imagens da manifestação pela redução do preço do diesel, mas que evidenciam o quanto a mobilidade urbana é dependente do combustível fóssil.

Hoje, não há opção para uma mobilidade adequada sem combustível para carros e ônibus. Cadê o metrô nessa hora? Onde estão as estações de trem metropolitano ou de VLT para garantir a locomoção dos milhões de trabalhadores, das crianças que querem ir para escola ou das pessoas que precisam utilizar os hospitais? Em cidades mais desenvolvidas o transporte metroferroviário de passageiros responde, em média, por 40% a 45% dos deslocamentos diários da população nos centros urbanos, enquanto que no Brasil esse tipo de transporte responde por menos de 7% dos deslocamentos. Nas cidades onde a nossa malha é um pouco mais desenvolvida, como Rio de Janeiro ou São Paulo, o transporte sobre trilhos não chega a representar 20% dos deslocamentos diários, percentual muito baixo para o tamanho e densidade de nossas cidades.

Investir em transporte de passageiros sobre trilhos gera benefícios que vão muito além do transporte em si. A utilização de trens, metrôs e VLTs contribui para amenizar os congestionamentos, para a reduzir o número de acidentes de trânsito e os custos com internações hospitalares. Investir em transporte sobre trilhos é investir no meio ambiente, reduzindo o uso de combustíveis fósseis, a poluição atmosférica e a poluição sonora. Investir em trilhos é investir no cidadão, disponibilizando um sistema de transporte seguro, rápido e eficiente e garantindo, a cada um de seus usuários, mais tempo para lazer, estudo ou família. Investir em trilhos é aumentar o PIB brasileiro, pois o tempo perdido na ineficiência da mobilidade poderia movimentar a Economia do País.

A manifestação ora travada pelos caminhoneiros possibilita evidenciar que não se pode mais pensar em mobilidade tendo como única alternativa os sistemas dependentes de combustíveis fósseis. É fundamental dotar nossas cidades de uma rede integrada de transporte, que utilize os sistemas sobre trilhos como estruturadores dos grandes fluxos urbanos.

Em tempos de período eleitoral é essencial que os candidatos à Presidência da República e aos governos Estaduais incluam em suas agendas, como prioridade, ações efetivas em mobilidade urbana sobre trilhos. É preciso ter coragem para quebrar velhos padrões e assumir uma política pública inovadora para o setor, para que possam a vir a deixar um importante legado para os cidadãos. Fica a dica!

* Roberta Marchesi é Superintendente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento e Logística.