Trem Sonho Azul: as memórias das luxuosas viagens de trem entre Fortaleza e Recife

23 de abril de 2018 - 14:17

 

O bilhete na linha Expresso Asa Branca, de 1975 (foto: Acervo pessoal/Hamilton Pereira)

Quem atualmente viaja de avião ou ônibus para outros estados do Brasil provavelmente nunca parou para imaginar como seria percorrer grandes percursos dentro de um trem. O que parece longe da realidade brasileira atualmente, era comum em meados do século passado. Em Fortaleza, na década de 1970, se destacou a linha Expresso Asa Branca, que interligava Fortaleza e Recife, em homenagem ao rei do Forró. Mas o que fez essa linha entrar para a história da ferrovia foi a inauguração, em 1975, do trem Sonho Azul, que circulou neste trecho com um diferencial: sua estrutura luxuosa.

Um restaurante dentro do trem, com serviços de garçons, além das poltronas reclináveis e acolchoadas, ar-condicionado, sistema de som, banheiros e muitas outras opções que tornavam a viagem de longa distância mais agradável possível”, conta o pesquisador Hamilton Pereira, ex-funcionário da Rede Ferroviária federal S/A e coautor do livro Estradas de Ferro no Ceará.

Devido aos benefícios oferecidos na viagem, o Sonho Azul era um trem de alto custo, em sua manutenção e funcionamento, e isso resultava em um alto custo também para seus passageiros. “As viagens eram pagas por trechos, além disso, a guerra entre árabes e israelenses interferiu diretamente no fornecimento de combustível, e as locomotivas eram alimentadas, principalmente, pelas reservas de petróleo da Arábia. Por isso, o Sonho Azul circulou por aproximadamente dois anos apenas”, conta Hamilton.

A extinção das linhas de trem de longa distância devido aos custos elevados não aconteceu somente em Fortaleza. “No Brasil, os custos de manutenção e operação dos trens era muito alto e a RFFSA via nos trens de cargas mais lucratividade do que nos trens de passageiros. Aqui no Ceará, ela entrava com, pelo menos, 70% dos gastos, já que as passagens eram muito baratas e não cobriam as despesas. Além disso, não houve modernização dos cargos, tornando o trem obsoleto e perigoso”, explica o pesquisador. Em 1988, a RFFSA extinguiu por completo os trens de longa distância.

Saiba mais

Atualmente, o transporte de passageiros sobre trilhos no Brasil se concentra nas capitais e regiões metropolitanos. No entanto, ainda existem duas linhas que transportam passageiros em viagens interestaduais: a Estrada de Ferro Vitória a Minas e a Estrada e Ferro de Carajás, ambas administradas pela Vale. A primeira transporta passageiros entre as capitais Vitória (ES) e Belo Horizonte (MG), e tem opções de classe econômica ou executiva. E a linha Carajás interliga as cidades de Paruapeba (PA) e São Luis (MA), também com opções de classe executiva ou econômica. Em ambas as linhas, o preço da tarifa é variável de acordo com o trecho percorrido.

Reportagem: Pedro Alves | Nicole Lima